terça-feira, 28 de junho de 2011

Rush - 2112

Por Cícero Leitão - Guitarrista (www.myspace.com/scionofhybrids)e graduando de música pela UFOP
O quão longe vai o sonho de dois amigos de escola? Para entender a história deste disco, precisa-se entender a história desta banda.
Um é filho de judeus sobreviventes da Segunda Guerra Mundial e outro filho de eslavos, que fugiam das guerras do leste europeu, todos acolhidos pela mãe Canadá. Tímidos, se afastavam do triste mundo real através da musica e lá formaram uma amizade/banda que carregariam para o resto de suas vidas, Rush!
Largaram a escola e para se dedicar à banda e não demorou muito para gravarem seu primeiro álbum, “Rush”. Conseguiram contrato nos EUA e ficaram conhecidos na época como o “Zeppelin canadense”. Mas no próximo álbum a banda já não se contentava com só aquilo e foi formando aos poucos sua personalidade própria que puxava muito mais para um lado progressivo e já não parecia com seus ídolos ingleses. Um fracasso, “Fly By Night” e o terceiro álbum “Caress of Steel” não emplacaram e isto irritou a gravadora que exigiu que o Rush voltasse a ser o que era antes, curto e direto!
As coisas já não iam bem e outro fracasso seria o fim do contrato e da banda, mas até mesmo nerds cansam de apanhar e serem reprimidos, e estes garotos resolveram afundar com o barco ao compor “2112”. O disco é um “não” a gravadora e a todos que não aceitavam o Rush como ele é. E por ironia do destino esse foi o primeiro grande sucesso da banda que só estava começando sua caminhada.
A faixa-título, “2112”, ocupa todo o lado A do disco e possui vinte minutos e meio de duração. Sim, esse foi o “não” mais bem dito na forma de uma musica.
Pior que isso, se baseando no livro “1984” de George Orwell, o lendário baterista Neil Peart escreveu um conto aqui cantado que se passava em uma futura ditadura, na qual tudo era controlado pelos sacerdotes, governantes que, se precisassem, convenceriam o povo de que dois mais dois é igual a cinco.

“We've taken care of everything
The words you hear, the songs you sing
The pictures that give pleasure to your eyes.
It's one for all and all for one
We work together, common sons
Never need to wonder how or why.”


Mas o eu lírico desta história encontra em um momento, atrás de uma cachoeira, um instrumento mágico de cordas. Algo ancião, abandonado pela humanidade e ignorado pelos sacerdotes, uma guitarra. Com um pouco de sensibilidade, percebe-se que esta guitarra simboliza, nesta parábola, o verdadeiro som do Rush. Ele, empolgado, leva para os sacerdotes aquela preciosa descoberta, sabendo que aquilo tocaria a humanidade e teria de ser compartilhado com todos.
“I can't wait to share this new wonder
The people will all see its light
Let them all make their own music
The Priests praise my name on this night.”


A música então passa a se dar em forma de diálogo. E para a surpresa do eu lírico, aquela maravilha não é bem recebida pelo comando, que rejeita e condena o instrumento. Eles não querem o bem para humanidade, eles querem o que for mais útil, simples e sob controle. Se não for assim, não se encaixa no plano de governo. Neste momento nosso aventureiro percebe tudo de errado no mundo e perde a esperança ao saber que toda a sua vida já está traçada por aqueles que pouco se importam com ele, que seus sonhos nunca serão realizados e que o livre arbítrio não passa de uma falsa ilusão da humanidade.

“Don't annoy us further! We have our work to do.
Just think about the average, what use have they for you?
Another toy will help destroy the elder race of man
Forget about your silly whim, It doesn't fit the Plan!”


Na volta para casa ele adormece e vê um mundo novo, apresentado a ele por um oráculo. Lá o homem enxerga a verdade e se levanta contra a opressão, o homem aprende, cresce e se fortalece para derrubar os templos sacerdotais e erguer um lar onde já não existia mais.

“I stand atop a spiral stair, an oracle confronts me there.
He leads me on light years away, through astral nights, galactic days.
I see the works of gifted hands that grace this strange and wondrous land.
I see the hand of man arise, with hungry mind and open eyes.”


Ao fim deste conto, o protagonista se isola naquela caverna atrás da cachoeira, aonde encontrou a guitarra, pois sabia que ali ele não estaria sob domínios sacerdotais. Mas de que adiantava? Seu sonho continuava vivo em sua mente e o mundo tão distante de alcançar aquele patamar... A vida já não fazia nenhum sentido para ele. Assim, ele deitou-se pela ultima vez para não acordar mais e seu sangue foi derramado.

“Just think of what my life might be
In a world like I have seen!
I don't think I can carry on
Carry on this cold and empty life”

The Gran Finale!

“Attention all Planets of the Solar Federation
Attention all Planets of the Solar Federation
We have assumed control.
We have assumed control.”


Como já dito antes, o mais belo “não”. Um grito contra a opressão das gravadoras, um grito por liberdade criativa e uma carta de suicídio da banda Rush. Quem imaginou o futuro (post-mortem?) reservado para este trio? Acabaram por se tornar a banda canadense de maior sucesso da história.
Lado B
O lado B começa com “A Passage To Bangkok”, uma volta ao mundo basicamente. Uma musica simples e sincera que destaca a beleza de vários lugares do mundo fora do eixo “America do Norte – Europa”

“We're on the train to Bangkok
Aboard the Thailand Express
We'll hit the stops along the way
We only stop for the best”


O disco segue-se com a misteriosa musica “The Twilight Zone”. Sussurros ao fundo, só escutados com fones de ouvido, criam um clima, por muitas vezes macabro e interessante. Como se te chamasse para um mundo distante e perigoso. Essa é provavelmente a mais bela musica do álbum.
“You have entered the Twilight Zone, beyond this world strange things are known
Use the key, unlock the door. See what your fate might have in store...
Come explore your dreams' creation. Enter this world of imagination...”
“Lessons” entra em contraste com a ultima, com uma sonoridade muito mais feliz e a princípio acústica. Possui uma linha de baixo mais desenvolvida e um refrão empolgante ao velho estilo Rock n’ Roll.
“Sweet memories, I never thought it would be like this
Reminding me, Just how close I came to missing”
Uma certeza eu tenho. “Tears” foi escrita em um dia frio e chuvoso. Uma musica muito triste e sombria. Não faz o tipo da banda, mas até as pessoas mais felizes têm seus dias mais depressivos, porque a vida não é tão bela o quanto alguns pregam e alguns dias irão chover.
“A lifetime of questions, tears on your cheek
I tasted the answers and my body was weak”
Para encerrar o álbum vem a musica “Something for Nothing”, a introdução pode enganar, mas esta é a musica mais pesada do lado B. Ela completa “Tears” perfeitamente, pois ela é uma musica de reabilitação após momentos conturbados. Mesmo sem saber a letra, isto é perceptível, porque a música por si só, conta uma historia, e é a variedade de emoções que este disco provoca que o torna tão rico musicalmente. Cada nota é uma palavra que os instrumentos te contam.

“You don't get something for nothing
You can't have freedom for free
You won't get wise
With the sleep still in your eyes
No matter what your dreams might be”

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