domingo, 29 de maio de 2011

Por Sara Meynard.

Escritores precisam de estado de reformulação.
É quando a mente descansa, mas a alma inquieta e o corpo cansa.
É quando em uma pausa tudo muda na natureza lírica, em velocidade de poesia. Queira o poeta ou não, a poesia é viva por si só.
Mas depois que tudo dorme na aparência, um vento sopra trazendo um novo que sacia.

( pensando em Douglas Cristian)

quinta-feira, 26 de maio de 2011

"Treinar Pensamentos"

Era esse o barulho que ouvia - barulho de rua. Pisações arítmicas, carros velhos no chão de paralelepípedo (cujo o som é infinitamente mais agradável que carro novo no asfalto), vento nas árvores, retalhos de conversações... É um som que me agrada, ainda mais numa dessas épocas em que o rosto se rosa e o nariz congela; a boca seca, portanto é mais mordida; as mãos que, por cuidado mais que acertado do(a) dono(a) delas, ficam constantemente dentro dos respectivos bolsos enquanto caminham (que deveriam todos ser de pelúcia por dentro). Mãos quentinhas, gostosas. São aquelas que sinto falta nessas horas. Não seja tolo, não penso em todas ou qualquer uma; penso naquelas mãos que eu gosto, de quem gosto.
Não são as mãos de que o próprio dono as gosta, até desfaz delas. Deixa lá escondidas, e acha que não percebo que não gosta que me aconchegue nelas. Pois, também não hei de gostar caso acariceie as minhas costas porém deixarei; então me deixe em paz com suas mãozinhas. Quer dizer, mãozonas. Macias, brancas. Não interessa, são suas. É isso que importa.

Imagine, é claro que pensei-o num só caminho. Tentei falar pra mim com essas palavras, mas sabe que é impossível? Havia eu ter que treinar tudo o que pensava pra poder falar. Se era pra você, não sei, mas suponho bastante que sim. E ainda mais sendo você, treinei-me muito mais...
Pois é claro, dei com os burros n'água. Perdi grande parte do que pensava naquele momento... E gente não pode recuperar arquivo.
_ Que é isso então agora escrito?
Calma, é o mesmo. A essência do que pensa é o que fica, bem ali no lugar, não sai. É só escolher como se vai; ou se fica; ou retrai.

Que acha? Assim os tirei de mim. Poderia ser de outro jeito, num outro meio, até. Mas é que as palavras escritas que me deram preferência agora.
Então, se contente com elas, e durma com elas, viva com elas...

Ass: "Lolita", entre mais aspas que estas.

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Después de la noche de amor

De Douglas Cristian - Extraído de kafkacity.blogspot.com

Se durmió,
Yo te miraba.
Parecía agotada,
parecía descansar en paz.

Se durmió,
Yo te miraba.
Su rostro se iluminó el cuarto oscuro
más que el sol que siempre se rompe en mi ventana.

Se durmió,
Yo te miraba.
Quería saber sus sueños.
Me pregunto si no había.

Se durmió,
Yo te miraba.
Su cara traería la paz a mi alma necesita.

Se durmió,
Yo te miraba.
Mi deseo no aparece en sus sueños.
Porque quiero vivir en la realidad.

Se durmió,
Yo te miraba.
Yo habito en la madrugada tu

Se durmió,
Yo te miraba.
salió el sol
llenó la habitación con una luz innecesaria

¿Dónde la luz es sólo un detalle!

Bukowski - Como ser um escritor

Charles Bukowski, nasceu na Alemanha em 1920, porém viveu toda sua vida nos EUA. Deixou uma literatura incrível e um número respeitável de obras.
Ainda não o conheço, ainda estou lendo o primeiro livro de sua autoria que tive acesso até hoje, mas a cada linha me impressiono.
Me impressiono com sua palavra crua, sua preocupação estética nada acadêmica e como ele monta os seus personagens. É como se ele tivesse vivido tudo aquilo que ele escreve.
Segue um poema de sua autoria chamado Como ser um grande escritor, se delicie:


tens que foder muitas mulheres
mulheres bonitas
e escrever alguns bons poemas de amor.

e não tens que te preocupar com a idade
e/ou novos talentos.

apenas bebe mais cerveja
mais e mais cerveja

e vai às corridas pelo menos uma vez
por semana

e vence
se possível.

aprender a vencer é difícil –
qualquer imbecil pode ser um bom perdedor.

e não te esqueças de Brahams
nem de Bach nem
da cerveja.

não faças exercício a mais.

dorme até ao meio-dia.

evita cartões de crédito
ou pagar seja o que for a
tempo e horas.

lembra-te que não há nenhum cu
no mundo que valha mais de $50
(em 1977).

e se tens a capacidade de amar
ama-te primeiro
mas nunca te esqueças da possibilidade de
derrota total
mesmo que a razão para a derrota
seja justa ou injusta –

sentir cedo o bafo da morte não é
assim tão mau.

afasta-te das igrejas e bares e museus,
e como a aranha sê
paciente –
o tempo é a nossa cruz,
mais o exílio
a derrota
a traição

tudo isso.

sê fiel à cerveja.

uma amante constante.

arranja uma grande máquina-de-escrever
e enquanto ouves os passos para cima e para baixo
lá fora

martela a coisa
martela com força

transforma-a num combate de pesos-pesados

transforma-a no touro na sua primeira investida

e lembra os velhos sacanas
que tão bem lutaram:
Hemingway, Céline, Dostoievsky, Hamsun.

se pensas que eles não enlouqueceram
em pequenos quartos
tal como tu agora

sem mulheres
sem comida
sem esperança

então não estás preparado.

bebe mais cerveja.
há tempo.
e se não houver
está tudo bem
na mesma.

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Saudade...

De Luysa Torquato

Presença de dor, ou ausência de algo?
Sinceramente só aqueles que realmente não sentem,
ou talvez aqueles que se aprofundam nos estudos da psiquê humana,
podem explicar...
Verdade é que para quem tem,
isso consiste em apenas um sentimento,
sim,
é exatamente o que você está pensando,
e sim, exagere;
pois ele vem lá do fundo incomodando aos poucos,
você sente falta,
sente dor,
aflição,
e as súplicas, e lamentos começam a se aflorar;
e quando você menos percebe,
uma lágrima escorre dos seus olhos;
isso meu bem se chama ser um humano,
alguém de verdade,
sem medo de se expressar... e quem sabe viver.

Saudade?
Uma palavra, vários sentimentos, dor, emoção, diversas almas, nenhuma descrição.
Aaa se isso tivesse cura!
Talvez o CARPE DIEM não valeria mais a pena....

Poema Kafkaniano postumamente escrito por Nietzsche

Por Douglas Cristian - kafkacity.blogspot.com

sinto-me invadido por insetos
sinto-me tomado por eles
sinto-me estuprado por eles
sinto-me tomado por eles.

quem são eles?
de onde vieram?
por que me escolheram?
quero sumir

para onde fugir
o mundo está infestado deles
infestado daquilo que me faz querer sumir

infestação a qual eu não posso controlar
não posso me esconder
não posso sumir
não posso querer
nem me resta morrer!

Como olhar para o céu de um deus morto?
como olhar para terra de um homem morto?
como ser tentado por um diabo que já não existe mais

Não sou um homem
sou uma bomba relógio

segunda-feira, 2 de maio de 2011

29 de dezembro de 2010. Chove.

De Olga Penna  - http://piqueniquedepalavras.blogspot.com


(À S. Calle, uma experiência com histórias reais.)
 


29 de dezembro de 2010. Chove.

Estou aqui, com minhas mãos sobre seus peitos sem saber o que fazer. Juro que sinto uma enorme vontade de prová-los, quase estendo a língua, mas não o faço porque isso estragaria tudo. Não quero sentir gosto de papel, nesse momento os gostos imaginados me satisfazem muito mais. Pensei em você esses dias, que você poderia ser má. Culpa do meu surto de desculpas que ainda me barram os dedos. Fiquei me perguntando quantas pessoas você pode ter magoado, cheguei a pensar que não tinha esse direito e que você era egoísta. Depois mudei de idéia, já que alguns nos remetem coisas em comum é melhor pensar em coisas boas. Arrumei mil justificativas para seus atos, por fim quase senti vergonha por ter pensado mal de você. Acabei acalmando em parte minha necessidade de pedir perdão, mas, apesar das semelhanças, seus motivos não justificam meus atos. Sua causa é mais nobre que a minha afinal, você é artista. Eu? Bom, eu não sou ninguém.

Recolho uma das mãos que antes lhe acariciavam, a outra permanece firme, servindo de apoio. Por mais que seja difícil parar de olhar para eles é preciso virar as páginas. Valendo-me da mão que está livre, peço licença para ir saboreá-la em palavras.

Até breve, se cuida.
 

Mar de dentro, mar de fora

       De Sara Mosli  - locafes@blogspot.com

O estranho é lidar com esse mar todo lá fora
tendo um tão grande aqui dentro
Dentro-e-fora, fora-e-dentro
essa passagem brusca muitas vezes me danifica.
Ou me deixa perdida   
Tão perdida que não me lembro sequer nomes
tudo se embranquece.
Meu físico cai,
também, 
uma vez subentendido o quanto somos totalmente submissos à nossa consciência. 
Somos incapazes de viver bem incoscientemente,
pois é ali onde está tudo o que nos faz mal.
Pois,
esse mar todo de fora me engoliu.
Não há como evitar,
então, aprendo a nadar.
E um dia hei de consiguir atravessá-lo e chegar à praia.