segunda-feira, 2 de maio de 2011

29 de dezembro de 2010. Chove.

De Olga Penna  - http://piqueniquedepalavras.blogspot.com


(À S. Calle, uma experiência com histórias reais.)
 


29 de dezembro de 2010. Chove.

Estou aqui, com minhas mãos sobre seus peitos sem saber o que fazer. Juro que sinto uma enorme vontade de prová-los, quase estendo a língua, mas não o faço porque isso estragaria tudo. Não quero sentir gosto de papel, nesse momento os gostos imaginados me satisfazem muito mais. Pensei em você esses dias, que você poderia ser má. Culpa do meu surto de desculpas que ainda me barram os dedos. Fiquei me perguntando quantas pessoas você pode ter magoado, cheguei a pensar que não tinha esse direito e que você era egoísta. Depois mudei de idéia, já que alguns nos remetem coisas em comum é melhor pensar em coisas boas. Arrumei mil justificativas para seus atos, por fim quase senti vergonha por ter pensado mal de você. Acabei acalmando em parte minha necessidade de pedir perdão, mas, apesar das semelhanças, seus motivos não justificam meus atos. Sua causa é mais nobre que a minha afinal, você é artista. Eu? Bom, eu não sou ninguém.

Recolho uma das mãos que antes lhe acariciavam, a outra permanece firme, servindo de apoio. Por mais que seja difícil parar de olhar para eles é preciso virar as páginas. Valendo-me da mão que está livre, peço licença para ir saboreá-la em palavras.

Até breve, se cuida.
 

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